PET Nutrição
Disbiose intestinal
por Vanessa Martins e Vitória Resende Salles
A ciência da Nutrição é cada vez mais vista como uma forma de se tornar e se manter saudável; a variedade de alimentos e as diversas propriedades oferecidas por eles são cada vez mais exploradas pelos profissionais da área e indivíduos em busca da saúde. Porém, nos últimos anos, a disponibilidade de alimentos ultraprocessados e pobres em nutrientes vêm aumentando, assim como seu consumo. Além disso, a vida cotidiana das pessoas vem se tornando cada vez mais corrida, estressante e o ambiente em que vivemos cada vez mais poluído. Esse quadro leva a diversas modificações em nosso organismo, que acarretam em desequilíbrios, dos mais variados, no corpo; e um deles é a disbiose intestinal.
Disbiose intestinal se trata de um desequilíbrio na microbiota intestinal que produz efeitos prejudiciais à saúde e ao funcionamento adequado do organismo. O desequilíbrio das bactérias residentes do trato gastrintestinal leva ao predomínio de bactérias patogênicas sobre as benéficas (ALMEIDA et al. 2008). A abundância de bactérias nocivas também pode levar a produção de toxinas causando outras complicações.
As causas da disbiose são as mais diversas, incluindo as já citadas e associadas diretamente à dieta, como excesso de consumo de alimentos pobres em nutrientes e ultraprocessados, o uso indiscriminado de antibióticos e de anti-inflamatórios hormonais e não-hormonais; o abuso de laxantes; a excessiva exposição a toxinas ambientais; as doenças consumptivas; as disfunções hepato pancreáticas; o estresse e a diverticulose. É levado em consideração a idade; tempo de trânsito e pH intestinal, a disponibilidade de material fermentável e o estado imunológico do indivíduo (ALMEIDA et al. 2008). A disbiose pode ser relacionada ao aumento na permeabilidade da parede intestinal, à síndrome do intestino irritável, obesidade, câncer, entre outros.
A proliferação de patógenos na microbiota intestinal pode acarretar infecção bacteriana que leva à diarreia, inflamação da mucosa, síntese de promotores de neoplasias, destruição da mucosa intestinal, levando à hipersensibilidade. Essas consequências ativam o sistema imunológico e a inflamação crônica, a evasão imune e a supressão imunológica são consideradas os mecanismos pelos quais as bactérias induzem à carcinogênese (MAIA; FIORIO; SILVA, 2018).
A presença da disbiose provoca um desequilíbrio no organismo por via dos seguintes mecanismos: não absorção de vitaminas, causando cansaço; inativação de enzimas digestivas, resultando em prejuízos à digestão e induzindo a fermentação; além da desconjugação de sais biliares, comprometendo a digestão e absorção de lipídeos (MAIA; FIORIO; SILVA, 2018).
O diagnóstico da disbiose é realizado pela investigação de presença de constipação crônica, flatulência e distensão abdominal; sintomas associados como fadiga, depressão ou mudanças de humor; culturas bacterianas fecais; exame clínico que revela dor na palpação do cólon descendente; entre outros tipos de exames (ALMEIDA et al. 2008).

Uma das formas de tratamento é a reeducação alimentar, com inclusão de pro, pré e/ou simbióticos. Essas propriedades são encontradas em alimentos presentes na alimentação habitual do brasileiro, atuam na manutenção da composição da microbiota intestinal, diminuindo e até eliminando os sintomas do desequilíbrio das bactérias intestinais (CONRADO et al. 2018). A ingestão desses componentes é chave para restabelecer a microbiota intestinal, quando ocorre a disbiose (SANTOS; VARAVALLO, 2011).
Mas afinal, o que são probióticos, prebióticos e simbióticos?
● Probióticos: são microrganismos vivos não patogênicos que quando consumidos em quantidades adequadas, são capazes de sobreviver ao trato gastrointestinal e estarem metabolicamente ativos exercendo efeitos benéficos à saúde do hospedeiro (FAO/WHO, 2002). O consumo de alimentos probióticos promove a diminuição da quantidade de substâncias putrefativas (ANTUNES et al., 2007), incluem fatores como competição e efeitos imunológicos promovendo o aumento da resistência contra patógenos e estimula a multiplicação de bactérias benéficas (SAAD, 2006).
● Prebióticos: são componentes alimentares - não digeridos pelo organismo e que atuam principalmente no intestino grosso - que estimulam a proliferação ou atividade das bactérias benéficas para o organismo no cólon (SAAD, 2006), como por exemplo inulina e os fruto-oligossacarídeos (FOS). Ingestões diárias de prebióticos podem resultar em um aumento de bifidobactérias, e a adesão dessas bactérias ao trato gastrintestinal, mudando a composição de sua microbiota. Ao mesmo tempo, acabam sendo inibidores de crescimento de bactérias patogênicas (PASSOS; PARK, 2003; SAAD, 2006). Podem ser encontrados em produtos lácteos, podem ser consumidos em forma de cápsulas e em formas solúveis.
● Simbióticos: são produtos nos quais os probióticos e os prebióticos estão combinados. A combinação existente nos simbióticos deve possibilitar a sobrevivência da bactéria probiótica no alimento e nas condições do meio gástrico, possibilitando sua ação no intestino grosso (STEFE et al., 2008).

Para a prevenção da disbiose intestinal é muito importante realizar uma reeducação alimentar, evitando o consumo excessivo de alimentos processados, de açúcares simples, das carnes vermelhas e de leite e derivados.
A microbiota intestinal saudável forma uma barreira contra os microrganismos invasores, potencializando os mecanismos de defesa do hospedeiro contra os patógenos, melhorando a imunidade intestinal pela aderência à mucosa e estimulando as respostas imunes locais. A microbiota benéfica ajuda a digerir os alimentos e a produzir ácidos graxos de cadeia curta (AGCC). As bactérias colônicas continuam a digestão de alguns materiais que resistiram à atividade digestiva prévia. Neste processo, vários nutrientes são formados pela síntese bacteriana, disponíveis para a absorção, contribuindo para o suprimento de vitamina K, vitamina B12, tiamina e riboflavina. O desenvolvimento da microbiota intestinal se inicia logo após o nascimento e ainda no parto natural, quando o bebê tem contato com a mãe e o mundo externo (ALMEIDA et al. 2008).
As pesquisas vêm mostrando que o intestino é um dos melhores indicadores com que se pode contar para avaliar a saúde de um indivíduo, logo, cuidando melhor dele, melhora-se o sistema imunológico e, consequentemente, vive-se com mais disposição.
Referências
MAIA, Priscilla Lima; FIORIO, Bárbara de Cerqueira; SILVA, Francisco Regis da. A INFLUÊNCIA DA MICROBIOTA INTESTINAL NA PREVENÇÃO DO CÂNCER DE CÓLON. Arquivos Catarinenses de Medicina, v. 47, n. 1, p.182-197, jan. 2018.
CONRADO, Bruna Ágata et al. Disbiose Intestinal em idosos e aplicabilidade dos probióticos e prebióticos. Cadernos UniFOA, Volta Redonda, n. 36, p. 71-78, abr. 2018.
Food and Agriculture Organization of the United Nations/World Health Organization. (2002). Guidelines for the evaluation of probiotics in food. Disponível em: . Acesso em: 4 ago. 2018.
ALMEIDA, Luciana Barros; MARINHO, Célia Bastos; SOUZA, Cristiane da Silva. Disbiose Intestinal. Revista Brasileira de Nutrição Clínica, Belo Horizonte, v. 24, n. 1, p.58-65, dez. 2008.
PASSOS, Maria do Carmo Friche; MORAES-FILHO, Joaquim Prado. INTESTINAL MICROBIOTA IN DIGESTIVE DISEASES. Arq. Gastroenterol., São Paulo , v. 54, n. 3, p. 255-262, jul. 2017. Disponível em: . access on 09 Sept. 2018. Epub July 06, 2017. http://dx.doi.org/10.1590/s0004-2803.201700000-31.
CONRADO, Bruna Ágata et al. Disbiose Intestinal em idosos e aplicabilidade dos probióticos e prebióticos. 2018. Disponível em: . Acesso em: 09 set. 2018.